sábado, 21 de março de 2015

Atendendo ao convite do Grupo Nzinga de Capoeira Angola-Salvador (Mestras Janja e Paulinha, Mestre Poloca), participei, junto com a poeta Jocélia Fonseca, de um sarau após a roda do grupo. A atividade, ainda pela passagem do Dia Internacional da Mulher (8 de março), acontece ás sextas, e ontem teve como homenageada a escritora Maria Carolina de Jesus. Para mim, foi grande honra, esse encontro com pessoas amigas de longas datas. Mestra Paulinha (Paula Barreto), à época contra-mestre, foi a 'mais velha' quem me ensinou os primeiros movimentos de Capoeira Angola, antes que eu pudesse treinar com às alunas e alunos mais velhos no GCAP. Ao longo da minha formação humana (que continua, obviamente), na família, na política, na religião tenho tido o privilégio de receber de mulheres lições mais que fundamentais de vida. Privilégio e extrema responsabilidade, tendo em vista o eterno (e cotidiano!) holocausto que o sexismo faz desabar sobre as mulheres - tragédia da qual eu não devo me afastar, mesmo (e apesar de) carregando um traço fundamental do seu algoz. Celebramos, contudo, tal como na feminina entidade Capoeira, a capacidade de superação da mulher, a sua "ânsia de liberdade". 





CAPOEIRA ANGOLA

                                 Ao Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (GCAP)
                                 Ao Mestre Moraes




a chama sagrada da vela
eterna
acima do claro-escuro dos faróis
tão velha quanto oração
moderna
cobre o arco-tempo sobre nós

sábia claridade, que me cala e põe atento
complacente, e curva, e roda, e sempre
ao mais leve frágil vento...
ás!
de repente
fogo queimando (medo)...
relaxando em riso franco
de menina sem segredo
um brinquedo...

e a ciranda que as voltas do mundo não pára
a cada salto do escuro
nos põe numa nova equação
nos faz traçar as rotas impossíveis da sobrevivência
transpor  atlânticos
cruzar chibatas
vencer as matas
e alcançar a liberdade

desde África essa força nos anima
cobrindo de a alegria, a dor
cumprindo a volta por cima...
toque de magia:
triste e perseverante
qual angola e ladainha

capoeira angola
faz do banzo só saudade
recria do nó a nossa cidade
tirando, do fio, novelo
e da roda pequenina, espelho
para encarar a roda-vida todo dia
capoeira angola
sempre
pão pro corpo
pão pra alma
pão pra mente

                                                                                                                      lande - 1995