segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pegadas Racistas Na Terra Preta, Fétil e Bela - o documentário Lápis de Cor


 

"A caixa do lápis de cor brincando nas mãos de Deus. De repente, pinta gente de tudo que é cor de pele. Tão lindos e diferentes, que mesmo que Deus se mele, é divertido brincar."

                                                   
lapis de cor -reproducao


O documentário “Lápis de cor” (2014), dirigido pela estudante de Cinema e Audiovisual da UFRB, Larissa Fulana de Tal, natural de Salvador e integrante do movimento de cinema negro Tela Preta, aborda a representação racial no universo infantil e a maneira como o padrão de beleza eurocêntrico afeta a auto-imagem e auto-estima de crianças negras, revelando a ação silenciosa do racismo na infância. O filme que conta histórias reais de crianças da periferia estreia em rede nacional e internacional através do Canal Futura no próximo dia 22 de abril (terça-feira), a partir das 14:30h. Confira o trailler e deixe-se instigar: http://youtu.be/7O6G82UgTrM
(Fonte: http://www.portalaponte.com/)


PEGADAS RACISTAS NA TERRA PRETA, FÉRTIL E BELA

Embora ache que todos os assuntos, a depender do modo, podem ser tratados com crianças, eu vez ou outra perco esta certeza. Foi o caso, com o curta-metragem LÁPIS DE COR, de Larissa Fulana de Tal Santos (movimento Tela Preta).
Quando vi as imagens, pensei que só poderia colaborar ofertando a criança que trago em mim... Mas (mais) uma criança tão machucada já não cabia. Era preciso o acolhimento adulto.
Retomei a convicção de que se você é uma flor em um campo onde andam paquidermes de todos os tamanhos, não há como ser somente bela e perfumada quando algo desperta uma lembrança esmagada, quando a simples visão ou o som de grandes pisadas evocam a violência da existência. Alguma coisa há que tremer dentro de si. Como milhões de crianças não-brancas no Brasil e no mundo, assim são as crianças do Lápis. Quando esquecem que são negras, são negras, lindas e alegres, quando lembram que são negras, esquecem que são lindas, e lembram que são tristes - e, obviamente, soam confusas. No documentário, é certo, falta-nos os paquidermes. Só vemos as suas pegadas. Profundas.

O filme também me dizia que a jovem diretora, para além de questões de orçamento e condições de filmagem, devia ter vivido o impulso e o drama entre mostrar corações sangrando, ou estancá-los enquanto as tomadas eram feitas... Ela me pareceu ter optado pela primeira (e tão difícil) opção, apostando, talvez, que a visão daqueles corações – mesmo sangrando, e mesmo infantis – ainda tivesse algum poder de fazê-los gritar dentro de quem os veriam... Larissa quis transformar música, luz, cores, e enquadramentos em braços, olhares, cafunés, afagos e magia. Coube-nos, à equipe, segui-la. Penso que só uma mulher tomaria essa contradição e risco nas mãos; ou melhor, no colo.



Depois de amanhã vocês me dizem se estou certo...


(Lande Onawale)


...porque 21 é sempre 1º de abril...



NEGRO MINA

na lápide 
o pedido de vovô
- negro mina, falou:
"tiradentes
consciente
coerente
ele não traiu os seus...

traiu os meus"


(L.O)