quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lançamento - Sete: diásporas íntimas


(Clique na foto para ampliá-la)

Informações:
Camila Moraes (CEAFRO) - (71) 3283-5510
Lande Onawale - landeonawale@yahoo.com.br

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A bailarina

Para  Fernanda Felisberto

         Não via a hora da estréia do comercial. Seria no horário nobre, e o bairro inteiro, aliás, a cidade inteira se tornaria um buchicho só no dia seguinte. À tarde, fora buscar o cachê da sua participação e, junto com as outras dançarinas, assistiu ao filme já editado. Faltava apenas a inserção da logomarca do produto. As evoluções por demais ensaiadas no estúdio e na escola de balé que frequentavam ficaram perfeitas. Os passos finais, em slow motion, culminavam com o salto de todas em direção à câmara. uma das colegas, a de perfil mais próprio, mais nórdico, mostra, na palma da mão, o copinho do iogurte anunciado - o produto disputando a tela com os sorrisos sadios das moças por breve 5 segundos de imagem congelada.
         Às 19 horas, a janela da sala - e o próprio cômodo - estava apinhada de gente. Quem possuía TV em casa ouviu as reclamações de quem não possuía o aparelho: todos consideravam mais emocionante assistir ao comercial na casa da artista.
         Plim Plim. Os moleque largavam as bolas de gude na réstia de barro onde brincavam e se enfiaram por entre as pernas dos adultos. A irmã da bailarina, na varanda, interrompeu o beijo e adentrou a sala arrastando o namorado pela mão. Os comerciais que se sucediam, mesmo os mais tolos, nunca tiveram uma plateia tão atenta e silenciosa.
         Começou. As moças dançavam como as cabeças dos expectadores. "Cadê ela?!" "Ali ó. Aquela de roupa azul." "Mas são várias! Bem que a TV poderia ser maior, né?", observou um vizinho. "No final fico mais visível", disse a dançarina aflita. "Psssiu!", repreendeu a mãe.
         Para todos os 30 segundos foram eternos. Quando o balé iniciou os movimentos finais, a bailarina inclinou-se instintivamente para a TV. na tela, ao canto superior direito, uma tarja branca com o nome do produto apareceu e foi escorregando em diagonal. Foi entrando... entrando... e parou, escondendo ao fundo seu rosto negro tão bonito.

Conto presente no livro "Terra de Palavras", organizado por Fernanda Felisberto.
Terra de Palavras: contos. Rio de Janeiro: editora Pallas; Afirma. 2004, pg. 35-36.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quase Carnaval

Lhe procurei porque quis:

fui aos lugares improváveis
e horários inconvenientes
- não via nada, nem ninguém

revisitei amores...
comprei flores que murcharam...
[...]

a cidade da Bahia
tornou-se imensa de repente:
subi tantas ladeiras sem chegar até
você!
(vaguei por quantas ruas sem lhe encontrar?)
entrei nos bares comuns
e atrás dos baticuns
- graças a deus -
eu me perdi


Trecho retirado da obra O vento, 2003, pg. 36.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

KWE ZULU

quando fecho os meso
uma escuridão me ilumina
e vem do congo, moxicongo
a força que me anima
é por dentro o barravento das palavras
indaka que não se cala
ingoma soando em mim
...vem no vento, sibilando, cada sílaba...
eu, poeta, uma espécie de vodunsi
(olhos de Zambi)
boca de tudo
nada vejo
calo e me curvo de surran pra inspiração
rogo a espada dos verbos
o alá das metáforas
um mariwô pros meus versos
ouço...ouço o ilá no ouvido do mundo
ouço o fundo do fundo de mim...

a poesia, então, se eleva feito inkisi
vindo de caçadas ou maiangas
o poema se abre como um barracão de memórias
resta o chão
e eu